Insônia nos Idosos
Insônia é a dificuldade de iniciar o sono, mantê-lo, ou mesmo obter um sono restaurador, A insônia está associada a prejuízos durante o dia, que podem ser percebidos como cansaço, irritabilidade, desatenção, déficit de memória ou sonolência diurna, que pode variar desde a sensação de sonolência à necessidade de tirar um cochilo ou dormir enquanto se realiza uma atividade (dirigir, por exemplo).
A maioria das pessoas já experimentou alterações pontuais de sono, como não dormir bem uma noite ou duas por condições não patológicas, como mudança ambiental em viagens ou preocupações momentâneas com eventos da vida. E, portanto, sabe como uma pequena alteração no ritmo do sono pode repercutir negativamente na qualidade de vida. Alterações crônicas do sono, ou seja, que perduram por mais tempo modificando o sono, podem levar à graves sintomas, com uma perda importante da qualidade de vida.
Por vezes, é difícil perceber as alterações do sono e atribuí-las a diversos sintomas. A insônia pode se estabelecer vagarosamente, ou em conjunto com outras mudanças ambientais, sintomas e mudanças na vida. Podemos atribuir os sintomas e as alterações do sono a estas mudanças. A própria falta de atenção e de importância que, às vezes, damos para o sono muitas vezes tornam a insônia um problema de saúde pouco reconhecido, diagnosticado e tratado em todas as idades.
Com a idade, a qualidade do sono naturalmente diminui. Iniciar o sono pode ser mais difícil e adultos mais velhos passam mais tempo na cama do que mais novos. Apesar de idosos sem insônia se queixarem mais sobre o sono, mas eles apresentam mais de insônia e alterações de sono que os mais jovens. A insônia geriátrica, além de prejudicar a qualidade de vida, aumenta o risco de quedas e de morte.
Quando um idoso se queixa de alterações no sono é importante saber se a alteração é causada por uma doença clínica, mental ou por medicamentos. Se são excluídas todas as causas de doença, é possível concluir que as alterações são normais do sono (causadas pela idade). Esta diferenciação só é possível através de uma consulta médica, na qual se integra os conhecimentos da geriatria, psiquiatria e da neurologia (medicina do sono). Ou seja, obtêm-se dados da história clínica (problemas físicos), da história psiquiátrica (sentimentos, sintomas subjetivos, problemas psicológicos) e da história do sono (registro do sono) com o intuito de determinar se a insônia é de causa primária (alteração do sono, propriamente dita) ou secundária (causada pelaa doença pré-existente).
Para que as alterações sejam atribuídas à idade (“normais”), os prejuízos durante o dia tem que ser mínimos. Caso a pessoa apresente algum sintoma durante o dia (como cansaço ou sonolência excessiva), ou sintomas noturnos (como dor, inquietação ou formigamento), ou mesmo se precisar fazer cochilos para aliviar outro sintoma devido ao sono não reparador, as queixas de sono provavelmente não serão atribuídas à idade.
Por vezes, hábitos, pensamentos e crenças atrapalham a qualidade do sono. Eles podem iniciar ou manter a insônia. Para tratar isso, usamos um conjunto de orientações chamadas de higiene do sono. Para algumas pessoas que associam fortemente a cama à preocupações, ou que têm dificuldade de modificar hábitos e crenças que atrapalham o sono, estas orientações podem se estender a algumas sessões de terapia cognitivo-comportamental. Em casos de insônia crônica e quando existe um transtorno psiquiátrico, esta alternativa de tratamento é muito importante.
A terapia cognitiva para a insônia, que pode ser relacionada a depressão, ansiedade, traumas e problemas físicas, é curta e extremamente eficaz. Crises de ansiedade ao usar o CPAP (tratamento da apneia do sono) podem ser tratadas com este tipo de psicoterapia.
Outros fatores podem atrapalhar a qualidade de sono. Com o avançar da idade, ocorre um aumento de sensibilidade a fatores que podem alterar o sono, como tempo de exposição solar durante o dia, temperatura do quarto, barulho do ambiente e a ventilação do quarto.
Chama-se de insônia primária os casos de insônia causados pelas Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (às vezes, os momentos de pausa na respiração não são perceptíveis pela observação), Síndrome das Pernas Inquietas (pacientes geralmente relatam dor ou desconforto nas pernas que não os deixam dormir), Síndrome de Movimento Periódico dos Membros Inferiores (paciente acorda muitas vezes à noite pelos movimentos involuntários) e pelo Transtorno do Sono REM (pesadelos, movimentar excessivo). Estas síndromes são transtornos neuropsiquiátricos que têm tratamentos específicos (tratamento para a doença, não para dormir). Elas podem ser de diagnóstico difícil, pois o sintoma que incomoda mais a pessoa muitas vezes não é a insônia, mas o cansaço, o ganho de peso ou a inquietação.
Frequentemente a alteração de sono é causada por uma doença crônica que o paciente já tem, ou por um estado de saúde frágil. Por isto, é importante que o médico também aborde a insônia como uma consequência de possíveis doenças, medicamentos ou substâncias, como enfisema e o excesso de cafeína e chás. Mesmo quando causada por uma doença primária do sono, ou por uma alteração secundária, como um transtorno psiquiátrico, a melhora do estado de saúde geral e o tratamento das outras doenças e problemas existentes, como a dor, levam a uma melhora importante sono.
Diversos medicamentos podem causar insônia como efeito colateral em algumas pessoas (não na maioria), como beta bloqueadores (p. ex., propranolol), broncodilatadores (p. ex., teofilina), hormônios da tireoide (p. ex., levotiroxina), corticoides (p. ex., prednisona), antidepressivos (p. ex., bupropiona, fluoxetina), benzodiazepínicos (p. ex., clonazepam, lorazepam) e descongestionantes. Por vezes, a diminuição da dose é necessária para solucionar a insônia. Em outras, pode-se precisar trocar a medicação.
A dor pode deixar pessoas acordadas à noite. Apesar de induzir do sono, o álcool piora a estrutura do sono e pode levar à insônia. A doença de Parkinson, doenças da tireoide, preocupação com estressores da vida e doenças que levam à falta de ar também são causas frequentes de insônia.
Os transtornos mentais são uma causa muito importante de insônia na população. Praticamente todo transtorno mental pode causar alteração do sono. A relação é tamanha que até 40% das pessoas com insônia tem algum transtorno mental. O diagnóstico mais relacionado com a insônia nos idosos é a depressão. 90% das pessoas com depressão têm insônia.
A insônia pode ser sinal do começo de uma condição psiquiátrica como um transtorno de ansiedade ou a piora do transtorno afetivo bipolar. Ela pode ser um sinalizador de sintoma residual do transtorno, ou seja, sintoma causado pelo transtorno que ainda não foi tratado em sua totalidade.
Síndromes demenciais, podem levar a alterações do sono. O tratamento precoce das alterações do sono na demência melhora a qualidade de vida, diminui o estresse do cuidador e diminui o tempo de institucionalização. Na instituição, os pacientes têm pior qualidade de sono e acabam usando mais remédios para dormir.
A terapia farmacológica para a insônia nos idosos é direcionada para os problemas que causam as alterações do sono, ou seja, as causas da insônia. Evita-se o uso de sedativos, que tem a função de induzir o sono, pois elas levam ao alentecimento da memória e da motricidade, propiciando quedas e outros problemas de saúde. Benzodiazepínicos (bromazepam, flunitrazepam), são medicações para dormir que estão associados a estes problemas. Antialérgicos comprados sem receitas (dimenidrato e hidroxizina) estão associados à perda de memória (cognitiva) e sonolência no dia seguinte.